Relato de Caso - Aline Kelly 35 anos

Meu nome é Aline Kelly. Sou de São Gonçalo do Pará de Minas. Em Julho de 2016 comecei com os sintomas da doença. Seio quente, inchado, com muita dor; nódulo gigante e uma parte toda avermelhada.
Como minha filha mamou em um só seio depois de muito tempo, desenvolvi a doença no que não amamentei. No dia em que fui ao médico desmamei ela. Suposta mastite de leite. Porém os antibióticos que tomei juntamente com os anti inflamatórios, só fizeram meu organismo criar resistência. Nessas idas e vindas fiz minha primeira mamografia, e o resultado foi entregue em 5 dias. Isso no SUS não é um bom sinal. Categoria 4. Daí começou o sofrimento psicológico. Estavam me dando 4 meses de vida.
Eu só chorava, pensava que meu marido é novo, arruma outra, mas minha filha com dois anos na época, quem iria cuidar?
Nessas horas quando você está prestes a pegar um diagnóstico desses fatais, você faz uma análise de tudo, se foi ou não uma pessoa boa, se tem alguém do lado de lá, se vai doer, como as pessoas vão ficar. Na verdade sua vida passa toda hora na sua cabeça. Enquanto que num acidente, ou morte súbita você não tem nem tempo pra isso. Acredito que tanto as doenças, ou os acidentes são somente uma desculpa para irmos embora.
Eu não podia programar um fim de semana, pois não sabia se iria estar bem. Lembro que as pessoas pareciam estar se despedindo, e todo médico que eu ia me passava outro antibiótico, outro anti inflamatório. Sofri muito com as dores que nenhum remédio tirava.
Até que não aguentando mais marquei uma consulta com um mastologista particular. Ele disse que mesmo não sendo uma coisa ruim a infecção se caísse na corrente sanguínea poderia me matar, e eu deveria operar no outro dia. Eu mal tinha dinheiro para pagar a consulta, como iria operar? Então, das providências de Deus, consegui arrumar o dinheiro. Fiquei de jejum das 07:00h da manhã às 21:00h quando entrei para o broco.
Quando acordei o médico me explicou que tinha retirado 3 cm para biopsia e feito uma drenagem, que era para eu permanecer com o dreno por 15 à 20 dias. Tomei antibióticos na veia e corticoides, iniciando aí os corticóides da vida.
No material colhido tinham duas amostras: uma para biopsia e outra para cultura, olhando tuberculose, bactérias, fungos, o que estaria causando a inflamação. Foram longos dias, muita oração, promessa, choro, somente Deus nos mantem aqui, nada mais, tudo é somente desculpa.
Quando retornei ao médico minha biopsia ainda não estava pronta, mas pela melhora com os corticóides ele afirmou que não era CA. Ele sabia da patologia da doença por ter pego um caso semelhante 20 anos atrás. Fiquei eternamente grata a Deus, pois somente nessas horas damos o devido valor na vida. Somente nessas horas aprendemos a fazer o que nos dá prazer de viver, aquelas coisas simples que nos faz um bem danado.
De la pra cá vários outros pontos (tipo furúnculos) que vazaram. Fiz a dieta de outro blog sobre a doença que corta carne, pão açucar. Leite de inhame, limão, chás atrás de chás. Bem engordei 15 kilos com um ano e oito meses da dose de 40 mg de corticóide diário. Meu cabelo caiu bastante, não tenho a mesma energia de antes. Não estava enxergando o rosto da minha filha quando resolvi por conta própria cortar o medicamento. Minha nova opção apresentada pelo Dr é o metrotexato, mas estou evitando atacar meu organismo com mais esse medicamento.
Fui em outra médica tentando uma opção de cura. Mas são outros muitos pedidos de exames para melhora. Na verdade sabemos que doenças autoimunes não tem cura, tem remissão. Sabemos que nosso psicológico precisa estar bem, para vencermos a doença. Porém precisamos todos os dias lutar contra nós mesmas para vencer o dia, trabalhamos fora, temos nossos afazeres domésticos, e ainda assim não temos direitos nenhum, nem diante do INSS, nem diante do SUS, nem diante da família e conhecidos, pois se reclamamos da dor, se não conseguimos dormir, se estamos gordas, estressadas, cansadas, esgotadas, viram para nós e falam que essa mastite é normal. Me perdoe a palavra, mas imagine um homem com um furúnculo no saco fazendo metade do que fazemos.
Pois bem, nossa parte mais sensível são os seios e além da cura, o que mais precisamos é de um pingo de respeito. Por favor se você é cirurgião plástico, é um mastologista dotado do conhecimento nos ajude a seguir sem dor. Estou disposta a retirar a mama, queria encontrar alguém que retirasse e reconstruísse para ver se assim a doença se manifesta. Lembrando mais uma vez que sou grata a Deus por não ser algo maligno. Somente buscando uma forma de ter saúde que eu tinha antes, e fazer tudo que fazia sem esse esgotamento físico e emocional.
Deixo meu apoio a todas as mulheres que passam pela mastite crônica granulomatosa idiopática.

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